No ano de 2006, o diretor Guilhermo del Toro apresentou-nos com
o fantástico “Labirinto do Fauno”, ganhador de três Oscars, Globo de Ouro,
Baftas e Goyas. O filme é presença constante nas grades de tv a cabo e mesmo
aberta, na horrível versão dublada.
O percurso narrativo duplo da protagonista, uma menina órfã
(Ofélia) que seria a encarnação de uma princesa do reino subterrâneo (Moanna),
é dramatizado em meio à ambientação, do lado real a guerra civil espanhola e,
do fantástico, cenários góticos, sombrios com monstros, fauno e fadas.
Somente ela, Ofélia/Moanna, vê, ouve e se relaciona com os seres
e lugares mitológicos da história, criando uma possibilidade de interpretação
dúbia por parte de quem assiste. É possível que toda a trama pela qual torcemos
seja fruto da imaginação fantasiosa de uma aficionada por contos de fadas (há
cenas declaradas de críticas a esse comportamento da menina).
Por outro lado, os fenômenos fantásticos vivenciados pela garota
interferem na realidade, modificam a saúde de sua mãe, permitem que ela saia de
um quarto trancado, fornecem sinais previdentes do que virá a acontecer. Essa
dubiedade não é resolvida nem no final do filme. É possível defender tanto a
tese do alucínio quanto a de que Ofélia realmente é uma princesa reencarnada,
cuja morte é apenas uma passagem.
Inclusive, sabe-se desde o início que a protagonista vai morrer
no final, dando a entender que o diretor tem como prioridade o percurso
revelatório da personagem principal, suas “tarefas”, bem como a retratação do
ambiente opressor do quartel/moinho do exército franquista.
Muito mais que um filme de suspense, de fantasia ou sobre a
história espanhola, “O Labirinto do Fauno” é uma obra de arte do cinema,
plasticamente perfeito, com uma trilha sonora tensa e bela, além de contar com
interpretações marcantes. Vale recordar que os contos de fadas surgiram na
oralidade, durante a Idade Média, com uma roupagem muito mais cruel do que nos
acostumamos a ver nos clássicos da Disney (em tempos de cuidado com o
politicamente correto), bem mais próximo do mundo criado pelo artista Guilhermo
del Toro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário